sexta-feira, 18 de novembro de 2011

SAÚDE E ESPIRITUALIDADE Mauro Ivan Salgado e Gilson Freire

 


SINOPSE

Até  pouco  tempo  imaginávamos  fazer  parte  de  um  universo compacto, no qual o tempo era invariável e os eventos futuros dependiam,  estritamente,  do  encadeamento  de  fatos passados;  a  partir,  porém,  das  contribuições  da  ciência  e  de modo  especial  da  física  quântica,  nos  deparamos  com  um mundo “novo”,  em que o  espaço é curvo, o tempo variável e a  matéria  mera  condensação  de  energia. Os  conceitos  caem por Terra, é preciso investigar para além dos limites até então conhecidos. 

A  evolução  extraordinária  das  Ciências  Biológicas  modernas esbarra  em  conceitos  intransponíveis:  a  investigação avançada  não  consegue  explicar  a  vida  integrada  à consciência  e  ao  espírito.  E  os  cientistas  mergulham  em exaustivas  pesquisas,  tentando  compreender  os  mecanismos fisiológicos  que  expliquem  a  atemporalidade  da  alma  em relação ao corpo.

Analisar  a  prática  da  medicina  além  do  corpo  é  mais  que necessário  nos  dias  que  correm,  quando dois  terços  das universidades  dos  Estados  Unidos  já  têm  cursos  normais  ou optativos sobre Saúde e Espiritualidade .

A  Organização  Mundial  de  Saúde  (OMS),  apregoa  uma assistência  à  saúde  mais  humanizada,  e  inclui  a espiritualidade  no  conceito  fundamental  de  saúde.  Esse  ato corrobora  para  o  rompimento  de  barreiras  educacionais  no mundo  inteiro  e   abre  uma  janela  de  esperança  para  a verdadeira integração entre saúde e espiritualidade.

O  livro  Saúde  e  Espiritualidade  vem  em  momento  mais  que propício, para tratar desta imprescindível temática,  segundo a visão  de  múltiplos  especialistas,  como  médicos, cientistas e humanistas,  dentro  os  quais   Dr.  Pierre Weill.                                                                   

EDITORA INEDE

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 Trechos Extraídos da Obra

O  lançamento  desta  obra  é  um  marco  importante  na implantação de um novo paradigma para a saúde. Importante, porque  promove  uma  discussão  saudável  no  âmbito  onde  as mudanças  devem  preferencialmente  ocorrer,  o  do  ensino universitário.  E  discutir  sobre  a  prática  da  medicina  além  do corpo é mais que necessário nos dias que correm, quando dois terços  das  universidades  dos  Estados  Unidos  já  têm  cursos normais ou optativos sobre Saúde e Espiritualidade. (...) Até o final  do  século  XIX,  com  o  predomínio  da  física  newtoniana, imaginávamos fazer parte de um universo compacto, no qual o tempo  era  invariável  e  os  eventos  futuros  dependiam, estritamente,  do  encadeamento  de  fatos  passados;  com  o advento,  porém,  da  teoria  da  relatividade  de  Einstein,  nas primeiras  décadas  do  século  XX,  adentramos  um  mundo  até então  ignorado  onde  o  espaço  é  curvo,  o  tempo  variável  e  a matéria mera ilusão, porque esta, em última análise, é sempre condensação de energia.
 
...a  Física  Quântica  trouxe  três  conceitos  revolucionários: “movimento  descontínuo,  interconectividade  não-localizada  e finalmente,  somando-se  ao  conceito  de  causalidade ascendente  da  ciência  newtoniana  normal,  o  conceito  da causalidade descendente – a consciência escolhendo entre as possibilidades,  o  evento  real”.  Quando  coloca  esses  três conceitos, o Prof. Goswami argumenta: “se a consciência é um fenômeno  cerebral,  obedece  à  Física  Quântica,  como  a observação consciente de um evento pode causar o colapso da onda  de  possibilidades  levando  ao  evento  real  que  estamos vendo? A consciência em si é uma possibilidade. Possibilidade não pode causar colapso na possibilidade” – tese desenvolvida em seus livros: O Universo Autoconsciente, Janela Visionária, O Médico Quântico  e  Física da Alma.  Foi  raciocinando  dessa forma  que  ele  abandonou  o  pensamento  materialista,  com  o qual  tinha  convivido  durante  45  anos,  para  abraçar  a explicação espiritualista. Constatamos  também  que  as  ciências  biológicas  evoluíram muito,  a  partir  da  segunda  metade  do  século  XX,  com  a descoberta, em 1953, por Watson e Crick, da forma helicoidal da molécula de DNA, o que permitiu que se chegasse a junho de  2000  e  fevereiro  de  2001,  ao  final  da  primeira  parte  do Projeto Genoma Humano.
 
A  verdade  sobre  a  vida  é  que  não  podemos  reduzi-la  tão somente às leis físicas ou tampouco restringi-la ao quimismo celular, do mesmo modo que não conseguimos explicá-la sem buscarmos  a  sua  integração  à  consciência  ou  espírito,  cujas manifestações estão presentes em estados muito primários do desenvolvimento(...)
 
Como  se  constata  na  prática,  as  extraordinárias  revoluções epistemológicas  ainda  estão  por  ocorrer  tanto  na  medicina como  em  várias  outras  vertentes  da  ciência,  porque  o  novo paradigma  penetra  muito  lentamente  as  áreas  fortemente impregnadas  de  reducionismo.  Por  enquanto,  para  a  maioria dos  profissionais  da  área  médica,  a  visão  do  mundo  e  do próprio homem continua sendo materialista-reducionista, sem as  luzes  do  pensamento  sistêmico  e  das  recentes  conquistas da ciência, por isso continuam praticando a medicina do corpo. 

Há, porém, algo a celebrar. Cada vez mais, “minorias criativas” (expressão do historiador Arnold Toynbee, que designa grupos minoritários de pessoas, defensoras de mudanças  evolutivas, em contraposição, à grande maioria, arraigada à mentalidade arcaica) buscam a integração entre fé e razão, tendo em vista que  é  impossível  compreender  o  mundo,  o  universo  e  o próprio  ser  humano,  sem  as  luzes  de  um  paradigma,  de  um modelo,  que  contemple  todas  as  áreas  das  cogitações humanas.  Nesse  novo  tempo,  especialistas  passaram  a enxergar  o  ser  humano  de  forma  integral,  conectado  a  uma imensa  rede  invisível,  que  engloba  todas  as  coisas,  do  micro ao  macrocosmo,  e  não  têm  nenhum  pudor  em  reconhecer  a complementaridade  entre  ciência  e  religião,  valorizando  a integração da espiritualidade à vida humana.

Foi  assim  que  ganhou  impulso,  na  década  1970,  uma  dessas minorias  criativas,  formada  por  médicos  que  buscam implantar  nas  universidades  estudos  de  Saúde  e Espiritualidade. Sob essa denominação, como assinalamos, já há  cursos  regulares  ou  opcionais,  e  também  de  pós-graduação,  em  dois  terços  das  universidades  americanas  – entre  estas,  nas  Escolas  Médicas  de  Harvard,  com  Herbert Benson, judeu; de Duke, com Harold Koenig, católico; do Novo México,  com  William  Miller,  luterano.  Afirmamos,  com renovada  alegria,  que  aqui  no  Brasil  também  já  existem minorias  criativas  que  tentam  levar  a  espiritualidade  às universidades, segundo o paradigma espiritualista.   

CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: COMPLEMENTARIDADE E INTEGRAÇÃO Dra.  Marlene Nobre


Ao  considerarmos  um  profissional  da  saúde  exercendo  sua função na assistência, é prudente reconhecer que as vivências emocionais  e  psíquicas  desse  estão  presentes;  não  há  como fazê-lo  um  técnico  imparcial  que  apenas  elabora  as informações colhidas somando-as ao conhecimento estudado, subtraindo-lhe  todo  o  conteúdo  de  seu  funcionamento psíquico. Obviamente o paciente também traz toda sua carga psíquica  para  o  atendimento,  desde  as  vivências  próprias  do adoecimento até suas expectativas de melhoria. Desse modo, concluímos que há uma interação no binômio médico-paciente que abrange aspectos psíquicos e emocionais, perpassada por inúmeros fenômenos. 

A  transferência  e  a  contratransferência  são  fenômenos comuns  na  atividade  dos  profissionais  de  saúde,  ainda  que nem  sempre  identificados  nesses  termos,  e  fazem  parte  da rotina  de  trabalho  na  assistência  aos  pacientes.  Paul  Dewald salienta,  se  referindo  aos  “deslocamentos”  no  conceito  de transferência,  que  estes  “(...)  são  ubíquos  e  ocorrem,  de algum modo, em todas as pessoas”,  trazendo-nos  uma  idéia da constância desses fenômenos.

Trecho extraído do Capitulo TRANSFERENCIA E CONTRA TRANSFERENCIA, Dr. George Lodi
  

Ao  invés  de  se  tentar  equacionar  o  “enigma  da  consciência” pela  estrutura  das  redes  neurais  e  seus  sistemas  de organização,  estamos  apresentando  uma  via  de  acesso  à consciência,  pela  elaboração  e  hierarquização  das  idéias.  Ao estabelecermos  um  fundamento  hierárquico  para  suas expressões,  podemos  questionar  quais  conteúdos  e significados  das  idéias  que  seriam  compatíveis  com  o aparecimento da consciência. Dessa forma, quando aumentar nosso  conhecimento  sobre  os  diversos  aspectos  da consciência,  os  fundamentos  serão  sempre  os  mesmos,  irão variar  apenas  o  significado  das  idéias  necessárias  para explicar  determinada  apresentação  da  consciência.  Para estarmos  alertas  e  perceptivos  em  relação  ao  ambiente, precisamos  de  um  determinado  padrão  ideatório  e  para estarmos  conscientes  do  Eu,  nos  é  exigido  um  determinado padrão  de  idéias.  Para  a  expansão  da  consciência  a  outros planos  da  vida,  são  exigidos  os  padrões  transcendentes  de idéias.  Os  ganhos  anatômicos  do  cérebro  foram  adquiridos, presumivelmente,  pelo  desenvolvimento  de  uma  crescente constelação  de  idéias  que  a  evolução  estimulou  nos  desafios da vida.

A importância das idéias se revela na percepção que temos da realidade, bem como, nas ações que executamos acreditando serem  procedentes  de  nossa  vontade.  Ambas,  nada  mais  são que  impressões  do  imaginário  que  a  evolução  nos  permitiu construir na consciência. 

Trecho Extraído do capitulo A ORIGEM DA CONSCIÊNCIA, Dr. Núbor Orlando Facure


A “seqüência semiológica traz uma lacuna, pois é silenciosa do ponto  de  vista  espiritual.  É  como  se  aos  médicos  e  a  outros profissionais  de  saúde,  que  também  constroem  uma  história clínica  para  cada  indivíduo  em  suas  práticas  diárias,  não interessasse nada saber acerca do papel ou da influência que a espiritualidade e a religiosidade exercem na vida, na saúde ou na doença de seus pacientes.

O  distanciamento  generalizado  dos  profissionais  da  saúde dessa  importante  dimensão  do  ser  humano  poderia  ser analisado  sob  vários  ângulos,  psicológicos,  históricos, cronológicos  e  até  mesmo  econômicos.  Mas  qualquer  que fosse  o  resultado  dessa  análise,  não  podemos  continuar ignorando  esse  importante  aspecto  da  vida humana.        
                                                                                 
Antes  de  investigar  por  que  excluímos  a  espiritualidade  da elaboração  da  história  clínica,  seria  mais  proveitoso  nos perguntarmos:  “Por  que  incluir  a  história  espiritual/religiosa do paciente no relato clinico?” Koenig HG, 20056 nos lista uma série de argumentos a favor dessa inclusão... 

Quando o estudante de medicina ou o próprio médico exerce com  plenitude  sua  capacitação  profissional,  a  obtenção  da história  clínica  se  torna  tão  natural  que  mal  se  percebe  que aquela  conversação  está  seguindo  uma  seqüência previamente  estudada,  treinada,  premeditada.  A  obtenção  da história espiritual deve fazer parte dessa conversação inicial, obtida também com uma naturalidade que pareça espontânea, mas que seja técnica de interrogatório aprendida. E o melhor local para inseri-la na seqüência semiológica seria na história social,  quando  se  estuda  hábitos  e  condições  de  vida  do paciente. 

Trechos extraídos do capítulo SEMIOLOGIA ESPIRITUAL, Maria de Fátima Borges