SINOPSE
Até pouco tempo imaginávamos fazer parte de um universo compacto, no qual o tempo era invariável e os eventos futuros dependiam, estritamente, do encadeamento de fatos passados; a partir, porém, das contribuições da ciência e de modo especial da física quântica, nos deparamos com um mundo “novo”, em que o espaço é curvo, o tempo variável e a matéria mera condensação de energia. Os conceitos caem por Terra, é preciso investigar para além dos limites até então conhecidos.
A evolução extraordinária das Ciências Biológicas modernas esbarra em conceitos intransponíveis: a investigação avançada não consegue explicar a vida integrada à consciência e ao espírito. E os cientistas mergulham em exaustivas pesquisas, tentando compreender os mecanismos fisiológicos que expliquem a atemporalidade da alma em relação ao corpo.
Analisar a prática da medicina além do corpo é mais que necessário nos dias que correm, quando dois terços das universidades dos Estados Unidos já têm cursos normais ou optativos sobre Saúde e Espiritualidade .
A Organização Mundial de Saúde (OMS), apregoa uma assistência à saúde mais humanizada, e inclui a espiritualidade no conceito fundamental de saúde. Esse ato corrobora para o rompimento de barreiras educacionais no mundo inteiro e abre uma janela de esperança para a verdadeira integração entre saúde e espiritualidade.
O livro Saúde e Espiritualidade vem em momento mais que propício, para tratar desta imprescindível temática, segundo a visão de múltiplos especialistas, como médicos, cientistas e humanistas, dentro os quais Dr. Pierre Weill.
EDITORA INEDE
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Trechos Extraídos da Obra
O lançamento desta obra é um marco importante na implantação de um novo paradigma para a saúde. Importante, porque promove uma discussão saudável no âmbito onde as mudanças devem preferencialmente ocorrer, o do ensino universitário. E discutir sobre a prática da medicina além do corpo é mais que necessário nos dias que correm, quando dois terços das universidades dos Estados Unidos já têm cursos normais ou optativos sobre Saúde e Espiritualidade. (...) Até o final do século XIX, com o predomínio da física newtoniana, imaginávamos fazer parte de um universo compacto, no qual o tempo era invariável e os eventos futuros dependiam, estritamente, do encadeamento de fatos passados; com o advento, porém, da teoria da relatividade de Einstein, nas primeiras décadas do século XX, adentramos um mundo até então ignorado onde o espaço é curvo, o tempo variável e a matéria mera ilusão, porque esta, em última análise, é sempre condensação de energia.
...a Física Quântica trouxe três conceitos revolucionários: “movimento descontínuo, interconectividade não-localizada e finalmente, somando-se ao conceito de causalidade ascendente da ciência newtoniana normal, o conceito da causalidade descendente – a consciência escolhendo entre as possibilidades, o evento real”. Quando coloca esses três conceitos, o Prof. Goswami argumenta: “se a consciência é um fenômeno cerebral, obedece à Física Quântica, como a observação consciente de um evento pode causar o colapso da onda de possibilidades levando ao evento real que estamos vendo? A consciência em si é uma possibilidade. Possibilidade não pode causar colapso na possibilidade” – tese desenvolvida em seus livros: O Universo Autoconsciente, Janela Visionária, O Médico Quântico e Física da Alma. Foi raciocinando dessa forma que ele abandonou o pensamento materialista, com o qual tinha convivido durante 45 anos, para abraçar a explicação espiritualista. Constatamos também que as ciências biológicas evoluíram muito, a partir da segunda metade do século XX, com a descoberta, em 1953, por Watson e Crick, da forma helicoidal da molécula de DNA, o que permitiu que se chegasse a junho de 2000 e fevereiro de 2001, ao final da primeira parte do Projeto Genoma Humano.
A verdade sobre a vida é que não podemos reduzi-la tão somente às leis físicas ou tampouco restringi-la ao quimismo celular, do mesmo modo que não conseguimos explicá-la sem buscarmos a sua integração à consciência ou espírito, cujas manifestações estão presentes em estados muito primários do desenvolvimento(...)
Como se constata na prática, as extraordinárias revoluções epistemológicas ainda estão por ocorrer tanto na medicina como em várias outras vertentes da ciência, porque o novo paradigma penetra muito lentamente as áreas fortemente impregnadas de reducionismo. Por enquanto, para a maioria dos profissionais da área médica, a visão do mundo e do próprio homem continua sendo materialista-reducionista, sem as luzes do pensamento sistêmico e das recentes conquistas da ciência, por isso continuam praticando a medicina do corpo.
Há, porém, algo a celebrar. Cada vez mais, “minorias criativas” (expressão do historiador Arnold Toynbee, que designa grupos minoritários de pessoas, defensoras de mudanças evolutivas, em contraposição, à grande maioria, arraigada à mentalidade arcaica) buscam a integração entre fé e razão, tendo em vista que é impossível compreender o mundo, o universo e o próprio ser humano, sem as luzes de um paradigma, de um modelo, que contemple todas as áreas das cogitações humanas. Nesse novo tempo, especialistas passaram a enxergar o ser humano de forma integral, conectado a uma imensa rede invisível, que engloba todas as coisas, do micro ao macrocosmo, e não têm nenhum pudor em reconhecer a complementaridade entre ciência e religião, valorizando a integração da espiritualidade à vida humana.
Foi assim que ganhou impulso, na década 1970, uma dessas minorias criativas, formada por médicos que buscam implantar nas universidades estudos de Saúde e Espiritualidade. Sob essa denominação, como assinalamos, já há cursos regulares ou opcionais, e também de pós-graduação, em dois terços das universidades americanas – entre estas, nas Escolas Médicas de Harvard, com Herbert Benson, judeu; de Duke, com Harold Koenig, católico; do Novo México, com William Miller, luterano. Afirmamos, com renovada alegria, que aqui no Brasil também já existem minorias criativas que tentam levar a espiritualidade às universidades, segundo o paradigma espiritualista.
CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: COMPLEMENTARIDADE E INTEGRAÇÃO Dra. Marlene Nobre
Ao considerarmos um profissional da saúde exercendo sua função na assistência, é prudente reconhecer que as vivências emocionais e psíquicas desse estão presentes; não há como fazê-lo um técnico imparcial que apenas elabora as informações colhidas somando-as ao conhecimento estudado, subtraindo-lhe todo o conteúdo de seu funcionamento psíquico. Obviamente o paciente também traz toda sua carga psíquica para o atendimento, desde as vivências próprias do adoecimento até suas expectativas de melhoria. Desse modo, concluímos que há uma interação no binômio médico-paciente que abrange aspectos psíquicos e emocionais, perpassada por inúmeros fenômenos.
A transferência e a contratransferência são fenômenos comuns na atividade dos profissionais de saúde, ainda que nem sempre identificados nesses termos, e fazem parte da rotina de trabalho na assistência aos pacientes. Paul Dewald salienta, se referindo aos “deslocamentos” no conceito de transferência, que estes “(...) são ubíquos e ocorrem, de algum modo, em todas as pessoas”, trazendo-nos uma idéia da constância desses fenômenos.
Trecho extraído do Capitulo TRANSFERENCIA E CONTRA TRANSFERENCIA, Dr. George Lodi
Ao invés de se tentar equacionar o “enigma da consciência” pela estrutura das redes neurais e seus sistemas de organização, estamos apresentando uma via de acesso à consciência, pela elaboração e hierarquização das idéias. Ao estabelecermos um fundamento hierárquico para suas expressões, podemos questionar quais conteúdos e significados das idéias que seriam compatíveis com o aparecimento da consciência. Dessa forma, quando aumentar nosso conhecimento sobre os diversos aspectos da consciência, os fundamentos serão sempre os mesmos, irão variar apenas o significado das idéias necessárias para explicar determinada apresentação da consciência. Para estarmos alertas e perceptivos em relação ao ambiente, precisamos de um determinado padrão ideatório e para estarmos conscientes do Eu, nos é exigido um determinado padrão de idéias. Para a expansão da consciência a outros planos da vida, são exigidos os padrões transcendentes de idéias. Os ganhos anatômicos do cérebro foram adquiridos, presumivelmente, pelo desenvolvimento de uma crescente constelação de idéias que a evolução estimulou nos desafios da vida.
A importância das idéias se revela na percepção que temos da realidade, bem como, nas ações que executamos acreditando serem procedentes de nossa vontade. Ambas, nada mais são que impressões do imaginário que a evolução nos permitiu construir na consciência.
Trecho Extraído do capitulo A ORIGEM DA CONSCIÊNCIA, Dr. Núbor Orlando Facure
A “seqüência semiológica traz uma lacuna, pois é silenciosa do ponto de vista espiritual. É como se aos médicos e a outros profissionais de saúde, que também constroem uma história clínica para cada indivíduo em suas práticas diárias, não interessasse nada saber acerca do papel ou da influência que a espiritualidade e a religiosidade exercem na vida, na saúde ou na doença de seus pacientes.
O distanciamento generalizado dos profissionais da saúde dessa importante dimensão do ser humano poderia ser analisado sob vários ângulos, psicológicos, históricos, cronológicos e até mesmo econômicos. Mas qualquer que fosse o resultado dessa análise, não podemos continuar ignorando esse importante aspecto da vida humana.
Antes de investigar por que excluímos a espiritualidade da elaboração da história clínica, seria mais proveitoso nos perguntarmos: “Por que incluir a história espiritual/religiosa do paciente no relato clinico?” Koenig HG, 20056 nos lista uma série de argumentos a favor dessa inclusão...
Quando o estudante de medicina ou o próprio médico exerce com plenitude sua capacitação profissional, a obtenção da história clínica se torna tão natural que mal se percebe que aquela conversação está seguindo uma seqüência previamente estudada, treinada, premeditada. A obtenção da história espiritual deve fazer parte dessa conversação inicial, obtida também com uma naturalidade que pareça espontânea, mas que seja técnica de interrogatório aprendida. E o melhor local para inseri-la na seqüência semiológica seria na história social, quando se estuda hábitos e condições de vida do paciente.
Trechos extraídos do capítulo SEMIOLOGIA ESPIRITUAL, Maria de Fátima Borges